domingo, 25 de outubro de 2020

Desde o ventre

 Ela estava grávida de dois meses.

Ainda não sabia o sexo do bebê.

Estava no trabalho. Foi chamada às pressas para uma reunião. 

Chegando lá, uma mesa enorme. Lotada de gente.

Nem sabia de qual assunto se tratava.

O ano era 2011. Ela estava na Secretaria de Estado de Meio Ambiente de um estado da Amazônia chefiando o jurídico.

O motivo da reunião era um advogado que por força queria obter uma liberação para exploração florestal.

Trazia em mãos uma xerox simples e exigia cumprimento.

Ela explicou que daria cumprimento a ordem judicial caso tivesse um documento atualizado, um mandado, um ofício que fosse assinado pelo juiz ou tribunal, que aquele documento que ele trazia antigo já poderia ter sido reformado.

Ele irritado, aumentava a voz, crescia a soberba quase querendo constranger a todos. Dizia que ia mandar prender todos.

Ela irredutível.  Ele, então, não tinha nada para jogar contra a conduta dela, começou a falar mal da instituição dela. Aquilo foi exasperando o coração dela. Ela exigiu respeito. Todos em choque.

A reunião foi dada por encerrada pela Secretária de Meio Ambiente, que os chamou reservadamente na sala dela e pediu para que aquilo não mais se repetisse. Ela sentindo uma injustiça muito grande. Como assim? O advogado tinha deixado a todos com medo finalmente?

Ela pediu para se retirar da sala, mas não voltou atrás em sua decisão.

Desceu. Pegou o carro e foi para casa. Ao chegar na garagem de seu apartamento foi que viu. Uma poça enorme de sangue tomou todo o banco. Tudo! Mal podia olhar. Como ela poderia ter permitido que tamanha raiva tenha tomado seu coração? 

E, que essa raiva tenha levado embora a coisa mais preciosa que carregava no ventre?

Mal conseguia enxergar, tudo ficou escuro. Ligou para o marido e chorando muito disse que perderam o filho.

Ele saiu de onde estava e a foi socorrer. Foram para a emergência.

Ela estava em estado de choque, somente chorava, chorava e chorava.

Seu corpo estava ali, mas seu espírito vagava.

Ela estava pela primeira vez descontrolada. Repetia: Perdi meu bebê, perdi meu bebê!!!!!!

O médico mandou entrar para fazer o ultrassom e tentava acalmar a moça desesperada e dizia de maneira forte para ela se acalmar que aquilo não ia fazer bem para o bebê.

Ela dizia: Que bebê? Que bebê? Perdi. Jorrou muito, muito sangue.

Ele passou o ultrassom. Houve um descolamento de placenta expressivo.

E lá do outro ladinho, num cantinho bem pequenino se podia ver o bebê protegido, cuidado, acalentado por Deus.

O único cantinho que não foi atingido estava o bebê!!!!


Salmos 139 

1 SENHOR, tu me sondaste, e me conheces.

2 Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento.

3 Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos.

4 Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces.

5 Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão.


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