quinta-feira, 27 de agosto de 2020

 Com o diagnóstico sombrio da morte bafejando 

Em meu pescoço 

Tentando me levar

Eis que leio um poema que tempos atrás escrevi

Balada da despedida

Mas após trilhar tudo que trilhei

Eu mereço uma balada diferente 


BALADA DA CHEGADA 

Que menina linda

Tão puramente a vida amou

Passou um terço de tempo 

À procura do grande amor

Depois mais um terço para se realizar

Na profissão

Na terra 

E no ar

Só o mar assustava a moça 

Que achava tão lindo aquele senhor

Que todo dia deitava a maresia na areia 

Sempre pontual 


E quando o tempo finalmente a  conta lhe cobrou

Percebeu que o que buscava finalmente encontrou 


A chegada no seu destino

Não tinha a ver com o final


Tinha a ver com o caminho

Que sempre encheu de flores

Por onde passou


Dona Iracema

 Oi? Ela disse. Demoram tanto a chamar para o exame. Eu estou sem comer. Eu perguntei por que a Senhora não comeu? Eles avisaram antes que era para comer bastante. Ela respondeu: Eu não doi conta de comer não. Como só um pouquinho, mas a minha sobrinha ficou de trazer um lanche e nada. Eu também estou com muito frio.  Eu olhei para ela e sorri pelos olhos, pela máscara e disse eu também sinto frio e eu acho que vou andar com uma meiazinha na bolsa e a Sra deve estar com tanto frio porque está bem magrinha. Ela sorriu com os olhos de volta. Eu perguntei: A Sra. veio fazer cintilografia óssea? Ela disse que sim e que estava com câncer nos ossos. Câncer no osso que já tomou conta de tudo. Ela me disse que sente muita dor mas que tudo bem, ela toma um comprimido todo dia e não sente mais nada. Eu perguntei começou como? Ela disse. Na mama. A minha filha perguntou como fazia o exame de mama, aqui, em uma pausa reflexiva disse: - Sabe. Ela é gordinha e sua nos lugares em que vamos, eu magrinha sinto frio. Eu disse: - Tá vendo? A gordura protege o corpo. E rimos. Ela continuou: - Eu ensinei ela a fazer o exame. Fui para o banheiro de noite e fiz em mim. Todo dia de noite eu lavo o banheiro e tomo o banho até hoje. Eu gosto da minha casa limpinha. Eu faço tudo sem ajuda. Eu descobri um caroço, tava tão pequenino. Na segunda mesmo eu fui no postinho marcar consulta e levaram um ano para fazer a biópsia. Então já estava grande. Eu não sentia dor. Eu fui quatro vezes tentar fazer o procedimento, mas perdiam a papelada. Eu tive que emparedar eles lá para conseguir. Fez uma pausa. É o SUS. Se eu soubesse que já tomava nos ossos não tinha tirado o seio. Eu perguntei: A Senhora se chateia muito de ter tirado o seio né? É chato ficar com a cicatriz. Ela ficou em dúvida e disse que não queria era ter passado por uma cirurgia desnecessária porque ia estar nos ossos mesmo. Daí ía tomando só remédio se bem que quase morreu na quimio. Eu perguntei: - Deu efeito colateral forte? Ela disse é. Mas ela tava bem vivinha na minha frente, mas viva do que qualquer um de nós. Uma linda mulher, uma senhorinha fofa que dá vontade de abraçar e levar pra casa e ficar ouvindo estórias. Eu disse: Deus está no controle de todas as coisas. Ela disse: Sim. É mesmo, Ele está. Eu ganhei esse câncer caindo nl chão.  Uma queda mais de vinte anos atrás. Até então eu não sabia o nome dela. A atendente chamou: - Dona Iracema é a sua vez. A Senhora fez xixi? Esvaziou a sua bexiga? - Ela disse: Sim. Ainda agorinha. A atendente disse: Olha lá hein? Se chegar lá e tiver xixi vai voltar outro dia. Mas disse tudo amorosamente.

Dona Iracema brasileira, mulher e maltratada pelo Sus.

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Um exame inocente de hemograma esconde muita coisa. A partir de quando os marcadores tumorais no sangue detectam um câncer? Temos tecnologia para isso?

https://www.tuasaude.com/veja-quais-sao-os-exames-de-sangue-que-detectam-o-cancer/

http://www.oncoguia.org.br/mobile/conteudo/pesquisas-em-andamento-para-o-desenvolvimento-de-novos-marcadores-tumorais/4017/683/