sábado, 26 de agosto de 2023

O Disco

 Em uma das viagens de meu marido ganhei um presente

Ganhei um presente

Ganhei um presente em uma capa velha

Dentro tinha uma bolacha preta

Antiga, Cheia de Ruídos.....e poesia!

Eram dois grandes poetas! Um em cada lado do LP

Em um lado tinha a boemia.

No outro, a simplicidade de um gênio.

Entre os ruídos do vinil, saía poesia pura na sua mais profunda essência.

Chorei e me alegrei mais uma vez.

Um riso saltitante dentro da alma.

De uma alma adormecida que desperta feliz

Ouvir a própria voz do imortal Drummond

Poderia até mesmo me atrever a parafraseá-lo

No meio do caminho havia um disco

Havia um disco no meio do caminho

terça-feira, 12 de abril de 2022

Uma vontade dentro de mim

 Existia uma vontade dentro de mim. 

Ela existia desenganada, sim, desde sempre aqui.

Pelo menos desde sempre eu me lembro dela comigo.

Mas um dia ela foi embora sem avisar.

Foi tão de fininho que nem tinha percebido ela indo.

Eu fui murchando um pouco por dentro sem perceber.

Era a falta dela que nem sabia eu, mas sentia.

Hoje, depois de muitos anos quando ela voltou, a imediatamente reconheci.

Veio do meu jeitinho, faceira, me fazendo tão, tão feliz.

Ah! Vontade de escrever, deixa eu vir aqui te dar um abraço apertado, daqueles bem enlaçados mesmo, para ver se arranjo  jeito de não te perder outra vez!

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Um dia ele vem

 Um dia ele vem.

Chega devagarinho

Em uma manhã gelada com café quentinho.

Ou em um final da tarde com o sol se despedindo em um tom de laranja acolhedor.

Em uma lágrima ao descer do rosto envergonhada.

Um dia ele vem... ah! Ele vem.

O amor vem. 

Chega e finca sua bandeira nos corações dos enamorados.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

Tedius Abruptus

 Tudo está no seu devido lugar.

Até que o que está fora está onde tem que estar.

Só eu que não caibo dentro de mim.

Desconfortável

Falta-me algo. 

Não sei o que é.

domingo, 21 de março de 2021

A égua e o cavalo



A égua e o cavalo

 Sonhei que estava em um local de treinamento de cavalos. E eu tinha dois. Uma égua e um cavalo. Dei a eles a mesma quantidade de amor, a mesma quantidade de carinho, as mesmas oportunidades de correr...

Livrei eles quando aconteceu uma inundação no alojamento...

Mesmo assim a égua fugiu. Eu fiquei extremamente agoniada, como eu iria atrás dela com risco de perder o cavalo? mas o cavalo coube na minha roupa e eu fui atrás da égua para a recuperar.

A trouxe de volta. Fiquei preocupada e fui conversar com ela. Perguntei por que eu tendo feito tudo por ela e pelo cavalo, mesmo assim ela resolveu fugir.

A égua respondeu que eu não tinha feito as mesmas coisas não.  Mas eu tinha feito.

Fui ao cavalo e perguntei se por acaso ele achava que eu deveria ter lhe feito algo a mais e me respondeu que tudo lhe bastava.

Voltei à égua e lhe disse que tudo fiz e  ela finalmente respondeu que simplesmente não gostava de mim.

Então,  lhe respondi que eu não tinha outra alternativa se não vendê-la a outro dono. 

O novo dono foi buscá-la e a apartou de mim.

terça-feira, 9 de março de 2021

A Caixa Marrom

 


A caixa marrom é o destino de todos os lápis sem ponta da casa e mais as canetas esquecidas em qualquer canto. 

Lá dentro tem também canetinhas sem ponta ou faltando a capinha.

Pedaços de giz de cera se encontram aqui e acolá.

Eu consegui enxergar uma régua de metal, outra azul que foi brinde de aniversário.

Acredita que tem um compasso lá dentro?

Um estilete enferrujado chega a dar medo, mas nunca foi jogado fora porque é o único representante de sua classe.

Lápis de vários anos estão lá dentro. Uma caneta permanente está sozinha enquanto vê uma caneta que tem purpurina em um recipiente de água que brilha e reina nesse estranho lugar.

Hoje tem dia de apontador! Os lápis se agitam! Vão para algum estojo da casa. Uma oportunidade rara de sair da caixa e ir finalmente para algum lugar decente.

Bem, nem todos tiveram a mesma sorte e seguem lá dentro amontoados à espera de uma chance...

sexta-feira, 5 de março de 2021

Seja feita tua vontade

 Hoje fui ver os pontos. Ainda inflamados. Vou ficar mais uma semana assim, andando "ponteada", sem poder fazer movimentos bruscos.

Fui para ver os pontos, para poder ter mais liberdade de me movimentar, mas vi o médico cirurgião sem saber para onde se movimentar.

Sua família foi atingida pela covid. Ele e esposa já recuperados, porém a mãe e o pai dele, 84 e 86 respectivamente foram atingidos e precisaram ser internados.

Ele abriu o coração enquanto abria a gaze que recobria a cirurgia.

Uma semana antes, eu estava na dúvida se dava uma bíblia para ele. Eu fiz acepção de pessoas. Achava que ele era autossuficiente. Iria fazer pouco caso do presente, mesmo assim entreguei. Ele ficou feliz.

Agora percebi finalmente o óbvio que todos precisamos dos caminhos do Senhor, que são melhores do que os nossos. 

Seja feita tua vontade Senhor.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Carta para o meu Pai

 


Senhor, 

Jamais vou conseguir expressar a felicidade por ter te conhecido tão de perto!

Obrigada pelo meu tempo de deserto, por tanta dor, dificuldades.

Que me fizeram te amar ainda mais e sentir tua mão sobrenatural perto de mim, cuidando de tudo o tempo todo.

Glórias ao Deus único, vivo e maravilhoso.

Meu espírito encontra alento pleno somente em ti, na Tua presença, pai!!!!!!

Que felicidade me sentir tão filha, tão digna do teu amor!

Com carinho,

Sua filha.

domingo, 10 de janeiro de 2021

Sophia


 O ano era 3035 e a cidade era meticulosamente organizada e os seres andavam em pequenos grupos. Tinham o aspecto humano, mas há muito já tinham perdido o elo que os tornava humanos. A conexão com o seu verdadeiro criador. Seus olhos pareciam de vidro.

Foi quando, então, ela apareceu. Sophia. Estava com um vestido comprido, com um tom marrom aveludado. Gracioso, sensual sem ser vulgar e que apesar de contornar seu corpo não era justo ou sufocante. Ele dançava nela. E ela praticamente flutuava. Quando ela passou na rua, todos podiam sentir uma energia que emanava diretamente dela. E eles não sabiam o que era aquilo. Era como se ela produzisse a sua própria energia.

Quando ela passava todos olhavam para ela admirados. Ela transcendia o lugar. Eles se viravam para olhar. Ela tinha trilhões na moeda do lugar. Além de tudo, era riquíssima em um percentual que eles não podiam calcular. Era um ser extinto e único.

O contraditório de tudo isso é que Sophia era escrava. Sim. Escrava de um clã. E naquele dia iria conhecer sua nova família. 

Estava tendo uma festa extremamente organizada. Em um local com toques antigos. Louças e pratarias antigas. De antes das duas revoluções. E, a comida, também, era rara. Eram receitas antigas que levavam carne e queijo. Salgadinhos e outras coisas que não existiam praticamente mais devido à escassa matéria-prima, mas tudo ali era feito igual como era antigamente e em abundância. 

Sophia se deteve na frente daquele banquete já servido e comeu delicadamente um pouco de cada. E podia ver sua fome totalmente satisfeita ainda que pegasse pequenas porções. Estava tudo bom e saboroso.

Foi quando foi introduzida ao resto da mansão. Levada a uma sala, onde tinham vários feitos heróicos de seres ligados aos tribunais e à política. Ela se deteve um pouco ali, folheando as notícias em um cristal translúcido. Depois, passou à outra sala, onde estava reunido seu novo clã. Ela havia sido adquirida para aquela família.

Ao adentrar na sala, todos os olhares se voltaram para ela. Foi apresentada.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Máyra


 

 Todos os dias vou para o meu trabalho. Amo receber os primeiros pacientes para o acolhimento. Vejo seus olhinhos aflitos e tento levar um pouco de paz. Um pouco de alento. Explico para o paciente e os acompanhantes tudo o que vai acontecer.

O paciente chega e coloca os sapatinhos cirúrgicos. Entrega a sua carteirinha para a gente preencher a medicação e o peso. Vai para a balança pesar. Escolhe sua cadeira. Eles geralmente tem a cadeira preferidas deles, vamos meio que entendendo qual é e já colocando a plaquinha para eles, com o nome deles grande e a data de nascimento. As medicações da quimioterapia vem etiquetadas, com o nome também.

Eu gosto de ir além. Gosto de olhar as pastas dos pacientes e saber o histórico de cada um. Saber da evolução, em que fase se encontram do tratamento.

É inevitável que eu me aproxime mais de alguns. Sinta mais afeição. Nessa profissão não dá para se manter distante. Realmente não dá. Afinal, foi por isso que escolhi a área da saúde, para apoiar o próximo.

Outro dia, ganhei um brinquinho cor de rosa de uma paciente. Foi no mês do outubro rosa. Amo usar esse brinquinho. É um carinho que voltou para mim em forma de brinquinho. Significa além do material, significa um gesto singelo. Um elo entre paciente e cuidadora.

Quando isso acontece, então, eu conto a minha história pessoal. Eu venci o câncer! Sim! Eu mesma tive câncer. E estive do outro lado. Levei agulhadas, sofri com cada momento e efeito colateral e estou aqui! Viva e bem para ajudar nessa caminhada quem vem chegando.

As pessoas não tem ideia de quantos adoecem a cada ano. Vivem suas vidas alheias a esse mundo bem real. Agora mesmo estou aqui ajudando as pessoas e minha mãe também está com câncer. Mesmo assim, coloco um sorriso no rosto e vou trabalhar.

Todo dia recebendo com amor, atenção, cuidado e profissionalismo. Amo ser enfermeira.