terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Trauma de agulhas


 

 

Decidi encarar de frente o tratamento do Câncer.

Se tiverem que me colocar de cabeça para baixo eu to aceitando tudo.

Porém me deparei com problemas de percurso.

Comecei a ter dificuldades de acesso às veias.

Mais de uma furada para conseguir. No meio da caminho a veia não aguentava. Mais furadas.

E assim, na véspera de ir para a quimio a ansiedade inevitavelmente tomava conta. Até porque minhas sessões na segunda rodada passaram a ser semanais.

Então, aconteceu. Eu acordei chorando no dia da quimioterapia e não conseguia parar de chorar. E fui chorando e entrei na sala chorando. E os enfermeiros também já estavam tendo, lá, a ansiedade deles.

Um enfermeiro super gentil perguntou se eu queria desabafar sobre alguma coisa, algum problema familiar, qualquer coisa, eu só queria ser furada logo, sofrer logo e ponto. Apenas respondi fure logo.

Ele amorosamente viu a oxigenação do sangue, as batidas do coração, a pressão.... tudo ok....

Estava chorando resignada, então.

Chamaram uma técnica. Ela veio. Eu chorando. Examinou, examinou, tudo já estourado. Era a décima primeira sessão. Olhou, olhou, pegou, pegou, mudou de braço. Olhou, olhou, pegou, pegou, mudou de braço.

Eu silenciosamente orei um pai nosso. Porque não conseguia fazer uma oração estruturada, mas Deus já sabia. Jesus já estava lá a postos, seus anjos, todos.

Ela furou de primeira e a veia recebeu o soro passado como teste. Eu não senti nada, nada da picada.

Olhei para ela e disse: - Essa foi a furada mais delicada que recebi na vida. 

Ela sorriu.

E a veia aguentou até o final mais de quatro horas e meia de medicação.

Deus é bom. Deus é um Deus de detalhes e ele sabe até onde a gente aguenta.

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