segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Sem forças

Não consigo parar de pensar
Vou me entregar
A tudo
O desejo que insiste invadir
Tenho que o retirar
Não posso continuar assim
Vou ser a única que vai sofrer
Eu já sei
Final anunciado
Morte sem culpado
Tela vazia
Filme clichê
Meu erro foi querer
Ser dona da tua boca
Invadir o território de outro alguém
Achar que podia o impossível
Voei alto demais
Quando cair
Tenham pena de mim
Porque nem sei se viva ainda estarei
Para poder sentir
Dor rasga no meu peito
Lágrima lava o rosto
Noite agoniante
Faz dele me esquecer
Não posso mais com isso conviver
Luz cristalina
Aparece para mim
Cega e me leva para longe daqui
A um lugar onde o nada se faça existir
E eu em paz possa descansar
Da angústia que insiste em ficar
A me torturar
Não existo mais
Sobrevivo
Cada dia um pouco
Prolongando o desespero
A um patamar insuportável
Espero pela cura
Do anjo iluminado

(21.08.07)

Distância

Milhas de distância nos separam
As cartas não chegam
Lembro com saudade do ontem
Onde tudo era possível
Mas o tempo
Este impiedoso
Mostrou suas garras
E fez fenecer
As flores que você me enviou
Mais de uma vez
Elas foram despejadas fora
Após sóis e luas
Vejo que nosso amor também
No meu corpo templo
O sagrado
Não é mais o que por ti sinto
Foi-se tudo
Ficou a distância
E a amizade

(21.08.07)

Dinfunção alimentar

Hoje comi tudo que vi pela frente
Na tentativa de te devorar

Hoje comi tudo que vi pela frente
Na tentativa de te vomitar das minhas entranhas

Hoje comi tudo que vi pela frente
Na tentativa de ocupar meu corpo
E esvaziar a minha mente

(21.08.07)

Preciso dormir

Vou dormir
Cansei de tentar entender
Uma maneira de me defender

Vou dormir
Para amanhã acordar
E pensar que tudo foi um sonho


Pensei ter recebido uma ligação
Ilusão

O que poderias me dizer
Que eu já não saiba?

Não há o que se fazer

Vou dormir
Preciso acordar no amanhã
(21.08.07)

Placar

Hoje foi um dia duro
O dia que disse não
E queria dizer sim
Razão 1x0 Coração

(22.08.07)

Onde estás?

Penso em quais caminhos andas
não sei dizer
Estás sentado em alguma mesa de bar
afogando as mágoas de um passado não vivido?
Meu amor perdoe-me
não fui capaz de ver o amor surgir
Espero um dia com certeza
pelo tempo da delicadeza
onde serei de ti e serás de mim enfim
(25.08.07)

Soldadinho

A cara da minha infância
Fim de tarde
Brincadeiras e risos mil
Tentei te pegar
mas voavas
sempre faceiro
por poucos e breves momentos
podia te sentir a fazer cócegas
no dorso de minha mão
soldadinho
na minha imaginação
fizeste parte de estórias sem fim
cara de minha infância
(25.08.07)

Horas contadas para a tristeza

Quase enlouqueci
Prestes a perder as estribeiras
Fui chamada rápido à realidade
Voltei para o mundo real
Às vezes frio porém jamais insípido
Espero mais esse dia cinza passar
Na esperança de um ombro amigo
No dia de amanhã
No dia de amanhã
Com um novo sol
E esperanças renovadas
Vou colocar minha cara na porta
Espero que a chuva não caia
[mais toda em cima de mim
[Como hoje
[Em que inundei
Transbordei
E quase fiz doideira
Agora entendo porque o dia tem
[horas contadas
É para que os dias ruins terminem
Os dias ruins são os dias da tua ausência
Dias de intensa saudade
Dias de solidão

(26.08.07)

Fé e inocência

Aquela senhora grávida na porta da igreja
Prestes a parir mais uma vida
E eu que fui buscar consolo
Encontro alguém desolada
Com um filho no bucho e mais um à mão
Nem enxoval, nem comida
Ela pedia ajuda com os olhos
Com algum tipo de inocência
Que não sei como ainda tinha
Os anjos a abençoaram
Porque ela não tinha plena consciência
Estava lá a espera de algo
Ela já descobriu o que insisto em tentar
Fé!

(26.08.07)

Sem vagina

(Esqueci de dar o devido crédito ao poema de Maria Antônia Dias, irmã de Pedro Dias, família de poetas, desde o seu tataravô Fernão)

Esses dias de reclusão
Em que me encontro sem vagina
E sem coração
[com angina
Penso somente com a razão
Nada de emoção
Sem entradas rápidas
Sem movimentos frenéticos
Sigo inerte
Quieta no meu mais tenebroso inverno
Mulheres sérias não têm vagina
Tem lógica
São matemáticas
Precisas e estáticas

(26.08.07)

Para todas nós meninas sonhadoras

Para todas nós meninas sonhadoras
Criativas
Que acreditam em relações duradouras
Não percamos as esperanças
Ele existe sim
Está na fila de algum supermercado
Próximo à seção de comidas prontas
Aquelas de microondas
Com pressa
Em um terno bem cortado
Lindo e decidido

Para todas nós meninas sonhadoras
Em um dia de grande tristeza
Vamos ao cinema
Comprar um grande balde de pipocas
Para rir com as amigas
Ele vai estar lá /quieto
Em um canto da telona
Curtindo a mágoa de um amor plástico

II
Para todas nós meninas sonhadoras
Em tardes de sol e poesia
Ou em dias de chuva em museus
Ele existe está lá em algum lugar
Nós ainda não o vimos
Porque por uma razão óbvia
Ele ainda não é o personagem principal

Para todas nós meninas sonhadoras
Que se perguntam se isso é mesmo verdade
Sem dúvida lhes digo
Existe um alguém para cada uma de nós
Um menino sonhador que procura
Nós, as meninas sonhadoras
Dos sonhos de todos eles
Basta apenas um dia mágico
Em que sonhos saem dos casulos
E viram asas da realidade

(26.08.07)

Confesso

Confesso
não me torture mais

Confesso
não me deixes mais

Confesso
não me olho mais

Confesso
não me digas jamais

Confesso
eu te amo
sem retrocesso
(27.08.07)

Bom dia

Bom dia
Preciso te dizer
Já acordei
pensando em você

Sei que não queres mais me ver
mas eu sigo a te querer
e cada vez que vejo o sol
renovo as esperanças

De ao menor ver
teu riso criança
a me iludir

Devo seguir
meu caminho
mas por enquanto sozinho
todo dia
eu te digo
lembrança minha
bom dia
(27.08.07)

Organizo...

Organizo os livros empoeirados
E limpo também as traças de minha história

Organizo xícaras e copos
E bebo da lembrança
das horas tuas

Organizo meu horário
sem agora tua presença

Organizo idéias, vontades, desejos

Organizo tudo
E só tem uma coisa
que insiste em ficar
fora de lugar
minha vontade de seguir
a te amar...

(27.08.07)

Esqueça de mim

Deixe-me aqui só
No monólogo infinito de mim mesma
A repassar bem quietinha todos os bons momentos
Vividos ou queridos

Por favor, se esqueça de mim
E me deixe juntar os mil caquinhos
Todos aqueles que parti
Quando te vi passar ao lado dela
Estavas tão feliz

Deixe-me aqui só
A me recuperar bem devagar
Desse violento
Sentimento
De te amar sofrimento

(28.08.07)

Anjos Caídos


Somos todos malditos
Anjos caídos
Indignos do amor
Ridículos a buscar algo
[que nunca foi nosso
Não estamos no céu
Nós somos de fel

Anjos caídos
Pobres despedaçados
Apenas vislumbramos
Um pouco do que nunca
Poderemos ter
Uma nesga de sol
Em um emaranhado
De cinzentas nuvens
Almas errantes
Perdidas
A se trombarem
Nas ruas da vida

Tristes
Perdidos
Anjos caídos
Sofrimento
Nosso nome
(28.08.07)

Quando acabou

Hoje perguntaram
Por que terminou nosso amor
E eu com delicadeza respondi
Porque brigar era mais importante
Do que juntos ver o sol nascer


Hoje perguntaram
Por que não deu mais certo
E eu então disse
Que você só não me queria mais por perto

(28.08.08)

Remédio para crise conjugal

Vou te prescrever um remédio
sentar ao lado dele/dela mais vezes com um pote de pipocas
e ficar o fitando bem quieta/quieto
até ele/ela perguntar
e vc sorrir e responder
te amo!
prescrevo ainda
acordar no meio da madrugada
mudar de posição na cama
e dormir abraçada nos pés dele/dela
de manhã mais cedo um pouco
preparar a mesa do café
e se difícil ainda assim estiver
sair antes dele/dela com um beijo de batom no guardanapo de papel
[ou um recadinho
se ainda assim a crise não passar
saibas que fizeste tua parte
e para se fazer arte
é necessário o pintor e a pintura
a vida, a vida é a tela

(28.08.07)

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Não mais

Para Marcelo, um amigo que se foi

O corpo caído
Não mais sol
Não mais riso
Não mais comida
Não mais trabalho
Não mais conversa
Não mais movimento
Não mais sopro de vida

Os corpos caídos
Num a dor
Noutro alívio
Nos dois, a violência
Não é fácil acreditar
Não poder mais contigo contar
No que nos tornamos?
Nós, reféns de nós mesmos

Um corpo caído
Numa droga de sociedade falida
Num desejo de vingança privada
Nos afastamos de Deus
Não sabemos qual caminho tomar
Num a luz
Noutro a escuridão
Nenhum traz tua alegria de volta

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Por um momento dedicado

Meus sentimentos em singela dança interna
Debatem-se em saber quando estarei eu enfim
a bailar contigo na terna dança do amor
Tenho medo amor de ir-me antes
da concreção de tão desejado sentimento
Por que ficamos tão vulneráveis?
Penso que todos podem ver
meu coração em chamas
minha respiração ofegante
meu balançar de mãos
a esperar um momento dedicado de teu olhar

Amor no ano-novo

No soar das badaladas
Meu olhar procurou teu olhar
Meu desejo quis ser teu desejo
Os fogos estalavam lá fora
E eu aqui dentro
Em meus pensamentos
Digo-te repetidamente o que sinto
Queira manter-me em sonhos
Amor no ano-novo
Como faço para te tornar real
Palpável - meu companheiro?
O amor avançou o irreal
Solidão afasta-te ligeiro de mim
Quero só a esperança de teus beijos
Cálidos e precisos
Vou dormir, agora, amor
E deixar entrar o ano novo.